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Agricultura Sustentável: do problema a solução

Será destacado aqui o papel de uma produção de alimentos mais amigável e eficiente com o todo, a agricultura sustentável, e partir dessa premissa, evidenciar todos os problemas que podem ser resolvidos se tomarmos medidas cabíveis para a preservação de todas as formas de vida existentes na terra.

O desafio, no entanto, é simples. Por um lado, agravam-se os dramas do aquecimento global, da liquidação das florestas originais, da destruição da vida nos mares, da perda de solo agrícola, da redução da biodiversidade, do esgotamento de recursos naturais críticos.

Por outro lado, temos um bilhão de pessoas que passam fome, destas 180 milhões são crianças, e destas entre 10 e 11 milhões morrem de inanição ou de não acesso a uma coisa tão prosaica como água limpa, ou seja, 30 mil por dia, dez torres gêmeas em termos de mortes por dia. Morrem no silêncio da pobreza, não rendem o mesmo espetáculo para a mídia. Não estamos matando, deixamos morrer. Um terço da humanidade ainda cozinha com lenha. Já morreram 25 milhões de Aids, enquanto discutimos o valor das patentes. Isto num planeta que graças a tantas tecnologias é simplesmente farto.

Produzimos no mundo 2 bilhões de toneladas só de grãos, o que equivale a 800 gramas por pessoa e por dia, sem falar de outros alimentos. Se dividirmos os 63 trilhões de dólares do PIB mundial pelos 7 biliões de habitantes, são 5400 reais por mês por família de quatro pessoas. Com o que produzimos poderíamos todos viver com paz e dignidade. E temos 737 grupos corporativos mundiais, 75% deles de intermediação financeira, que controlam 80% do sistema corporativo mundial, o que explica o número de bilionários. No conjunto, buscam maximizar os lucros, ainda que o planeta entre em crise financeira e produtiva generalizada. A simplicidade do desafio, é que estamos acabando com o planeta para o benefício de uma minoria. ‘Houston, we have a problem.’” – Ladislau Dowbor, economista e professor titular no departamento de pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, resumindo a “atual” conjuntura econômica mundial.

A problemática envolvida:  os impactos da agricultura convencional 

A agricultura moderna tem sido voltada para atender necessidades do mercado, com alta produtividade e baixos custos, mas é hoje a atividade que causa maior impacto ao meio ambiente.

A derrubada de matas originais está se tornando inevitável devido ao crescimento populacional demasiado, demandando de uma maior produção agrícola. A perda de solo causada pela associação de seu uso incorreto associado com as chuvas e ventos, e isto reflete na retirada de todas as camadas superiores do solo, chegando até as rochas, tornando-o não agricultável. E além disso, a terra que escorre com as chuvas, soterra rios e lagos, comprometendo sua vazão e qualidade da água.

Muitos se enganam ao pensar que o consumo doméstico gera os maiores gastos de água, mas 60% da água doce é utilizada na irrigação de campos agrícolas. Ademais, o uso descontrolado de adubos e defensivos agrícolas vem causando sérios problemas de contaminação de águas por resíduos e materiais lixiviados no solo, que podem causar problemas inclusive com a gradativa concentração de matéria orgânica no solo, chamada de eutrofização, e a contaminação de águas potáveis.

Um impacto que devemos tomar bastante atenção é a produção de material vegetal, por mais que capture carbono da atmosfera, o carbono liberado por atividades relacionadas supera a quantidade capturada. Esse carbono é liberado pela queima de diesel dos tratores, produção de fertilizantes e defensivos agrícolas, além da decomposição de restos de cultura.

Outro processo, que infelizmente, ainda é irreversível, é a desertificação causada pelo uso inadequado do solo, hoje liderado pela produção de gado e outros animais que vem desgastando-o de forma espantosa e tornando-o quase totalmente infértil. Isso vem fazendo com que quase nenhuma planta consiga sobreviver em muitas dessas áreas, tornando-as desertas.

Além de contaminações de solo e água, temos muitas espécies formadas durante muitos milhares de anos simplesmente desaparecendo com o desmatamento, espécies que podem ser necessárias para a produção de medicamentos no futuro.

Existem muitos outros impactos ambientais que a agricultura, assim como toda permanência do homem, causa.

Conhecendo esses problemas, há a necessidade de novas soluções para nosso futuro. O nosso planeta depende disso.

Os problemas além da agricultura

Mas alguns dos principais problemas da busca por um modo de produção mais sustentável vão além dos impactos causados pelas técnicas utilizadas hoje na agricultura.

“Mais grave ainda que a fome aguda e total, devido às suas repercussões sociais e econômicas, é o fenômeno da fome crônica ou parcial, que corrói silenciosamente inúmeras populações do mundo”.

A fome pode ser expressa de duas formas: a fome aberta que está direcionada a lugares onde ocorrem guerras, desastres ecológicos ou pragas que comprometem drasticamente o fornecimento de alimentos, e isso ocasiona a morte de milhares de pessoas. É mais difícil observarmos conflitos de grande porte, e neste caso, hoje existem vários organismos humanitários que fornecem alimentos a estas áreas afetadas. E a fome oculta é aquela no qual o indivíduo não ingere a quantidade mínima de calorias diárias, e o resultado disso é a desnutrição ou subnutrição que fragiliza a saúde, tornando a pessoa acessível a doenças, e por dados recentes, assola aproximadamente 800 milhões de pessoas em todo mundo, fato alarmante.

A situação nos países mais pobres do mundo está piorando, mais do que se imaginava. O número de pessoas que vivem com menos de um dólar por dia nos 49 países mais pobres do mundo, principalmente na África, mais do que duplicou nos últimos 30 anos, chegando a 307 milhões, o que equivale a 65% da população. As estimativas são de que este número pode chegar a 420 milhões em 2015.

Apesar do crescimento económico apontado pelos grandes polos macroeconômicos na Ásia, dois terços da população vivem com menos de dois dólares.

Nos países mais pobres de África, que inclui 34 dos 49 países mais pobres do mundo, quase nove entre cada 10 pessoas vivem com menos de dois dólares por dia, em comparação com o consumo per capita de 41 dólares por dia nos Estados Unidos.

A “globalização”, que diminui as barreiras internacionais para o comércio e o investimento, “está agravando a armadilha da pobreza internacional”.

Contexto

Na agricultura atual, de grande ou pequeno porte, tudo que é produzido de dejetos, efluentes ou resíduos é lixo (em escalas diferentes).

Estes subprodutos são depositados na natureza causando grande impacto ambiental. Este pensamento consumista é uma concepção muito nova, moderna, destruidora, não-rege­nera­ti­va que reflete a falta de harmonia entre homem e ambiente e a despreocupação com o próximo e com o todo.

Daí surge a ideia de uma agricultura mais ligada a terra e não apenas aos lucros vindos dela.

A agricultura sustentável proporciona maior segurança alimentar, pois não deixa de cumprir o papel econômico e ainda garante alimento de qualidade para todos, com baixo impacto ambiental, além de ser mais resistente às mudanças de clima.

Agricultura Sustentável: as novas ideias

Orgânica

É a mais antiga e tradicional corrente da agricultura ecológica, baseada na compostagem de matéria orgânica, com a utilização de microorganismos eficientes para processamento mais rápido do composto; na adubação exclusivamente orgânica, com reciclagem de nutrientes no solo e na rotação de culturas. Os animais não são utilizados na produção agrícola, a não ser como tração dos implementos e como produtores e recicladores de esterco.

Biodinâmica

Baseada no trabalho de Rudolf Steiner, suas principais características, além da compostagem, é a utilização de “preparados” homeopáticos ou biodinâmicos, elementos fundamentais na produção que são utilizados para fortalecimento da planta, deixando-a resistente a determinadas bactérias e fungos, e do solo, ativando sua microvida. Os animais são integrados na lavoura para aproveitamento de alimentos, ou seja, aquilo que o animal tira da propriedade volta para a terra. A importação de adubo orgânico não é permitida, pois materiais orgânicos de fora da propriedade ou da região não são adequados por não possuírem a bioquímica, a energia ou a vibração adequada à cultura. Existe a preocupação com o paisagismo, com a arquitetura e com a captação da energia cósmica. A agricultura biodinâmica está baseada na Antroposofia, criada por Steiner, é uma filosofia que apresenta um caminho para se trilhar em busca da verdade, que preenche o abismo historicamente criado desde a escolástica entre fé e ciência, pregando a importância de conhecer a influência dos astros sobre todas as coisas que acontecem na superfície da terra.

Natural

Além da compostagem, utilizam microorganismos eficientes que têm capacidade de processar e desenvolver matéria orgânica útil. Utilizam a adaptação da planta ao solo e do solo à planta. Este é o primeiro passo para a manipulação genética e, conseqüentemente, para a dominação tecnológica, característica semelhante à agricultura moderna, por este motivo, não é bem aceita por outras correntes da agricultura sustentável.

Permacultura

A partir dos princípios de Bill Mollison, suas principais características são os sistemas de cultivo (sistemas agro-silvo-pastoris) e os extratos múltiplos de culturas. Utiliza a compostagem, ciclos fechados de nutrientes, integração de animais aos sistemas, paisagismo e arquitetura integrados.

Na Permacultura não existem tecnologias adequadas ou próprias, mas sim “tecnologias apropriadas”. As comunidades tem determinada importância, devem ser auto-sustentáveis e auto-suficientes, produzindo seus alimentos, implementos e serviços sem a existência de capital. A comercialização deve ser feita através da troca de produtos e serviços.

Alternativa

Os princípios desta corrente são a compostagem, adubação orgânica e mineral de baixa solubilidade. Dentro da linha alternativa, o equilíbrio nutricional da planta é fundamental. Aparece então, o conceito de Trofobiose, que considera a fisiologia da planta em relação à sua resistência a “pragas” e “doenças”. Outra característica é o uso de sistemas agrícolas regenerativos, e daí surgiu à agricultura regenerativa. Outras pessoas dentro desta mesma tendência adotaram o termo agroecologia, que possui um cunho político e social, que prioriza não só a produção do alimento, mas também o processamento e a comercialização. Esta linha também se preocupa com questões sociais como a luta pela terra, fixação do homem ao campo e reforma agrária.

Nasseriana

É a mais nova corrente da agricultura ecológica e tem como base a experiência de Nasser Youssef Nasr no Estado do Espírito Santo. Também chamada de biotecnologia tropical, defende o estímulo e manejo de ervas nativas e exóticas, a multidiversidade de insetos e plantas, a aplicação direta de estercos e resíduos orgânicos na base das plantas, adubações orgânicas e minerais pesadas. De acordo com Nasser, a agricultura de clima tropical do Brasil não precisa de compostagem, pois o clima quente e as reações fisiológicas e bioquímicas intensas garantem a transformação no solo da matéria orgânica. No Brasil, o esterco deve ser colocado diretamente na planta, pois esta sabe o momento apropriado de lançar suas radículas na matéria orgânica que está em decomposição, e os microorganismos do solo buscam no esterco os nutrientes necessários para a planta e os levam para baixo da terra.

Outro ponto interessante é o uso de ervas nativas e exóticas junto com a cultura, para que haja diversidade de inços. Desta forma, é preciso manejar as ervas nativas de maneira que elas mantenham o solo protegido e façam adubação verde.

A partir destas diversas correntes e tendências percebe-se uma singularidade nos princípios da agricultura sustentável. Tais como respeito, a observação e o diálogo com a natureza. O homem deve ter a capacidade de perceber e de entender o que está acontecendo com a planta e com o animal, aproveitar os recursos naturais renováveis, a reciclagem de lixo orgânico e de resíduos, a adubação orgânica, a umidificarão do solo, a adubação mineral pouco solúvel, o uso de defensivos naturais, o controle biológico e mecânico de insetos e ervas, a permanente cobertura do solo e a adubação verde, resultando no uso da natureza a favor da cultura.

A esperança diante dos fatos

A partir de toda problemática relacionada, acredita-se que a agricultura tradicional nos próximos anos sofrerá grandes mudanças a fim de aperfeiçoar a sua produção.

A diminuição no desperdício de água, o reaproveitamento de resíduos e a rotação de culturas, trazem resultados além da preservação ambiental, pois no sistema econômico em que vivemos, a excelente relação custo/benefício que a agricultura sustentável apresenta, traz um novo pensamento de desenvolvimento aliado a sustentabilidade.

Pensando em escalas menores, a ideia de uma agricultura mais “limpa” e barata, nos da à possibilidade de atingirmos populações com sérios problemas sociais, pois deixa acessível à inserção destas, antes sem oportunidades, em futuras comunidades autossuficientes.

Por Lucas de Assis, Equipe biO3 Consultoria. O texto foi retirado do trabalho de conclusão da disciplina “Tecnologias para o Meio Ambiente” de título “A agricultura sustentável da Universidade Federal de São Paulo. Agricultura sustentável 
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