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Chief Nature Officer (CNO) – Profissão do futuro ou do presente!

A atual crise planetária é marcada pela protagonização da natureza, intrinsecamente ligada às mudanças climáticas, influência e perda de biodiversidade. Estratégias globais como as Leis de Desmatamento da União Europeia e a meta da COP15, que buscam proteger 30% da natureza até 2030, ressaltam a importância de incorporar a natureza no cerne das decisões de investimentos e no âmbito privado. Um marco significativo ocorreu quando a Lombard Odier Investment Managers (empresa de gestão de ativos do Grupo Lombard Odier) se tornou pioneira ao designar um “Chief Nature Officer” (CNO) em junho, destacando a necessidade de a natureza ter voz nas discussões decisórias.

O Relatório Dasgupta de 2021 destaca a natureza como nosso ativo mais valioso. Porém, a perda de biodiversidade, identificada pelo Fórum Econômico Mundial como um risco crítico global, resultou em um declínio de quase 40% no capital natural entre 1992 e 2014. Reconhecendo a má gestão coletiva de nosso patrimônio global, Sir Partha Dasgupta enfatiza a necessidade de um sistema financeiro que direciona investimentos públicos e privados para atividades que valorizam nossos recursos naturais e promovem práticas saudáveis. Governos, bancos centrais, instituições financeiras e setor privado têm um papel crucial nesse processo.   

Apesar dos apelos, a adoção da natureza como classe de ativos avança lentamente. A Taskforce on Nature-related Financial Disclosures- Força Tarefa sobre Divulgações Financeiras Relacionadas à Natureza (TNFD), composta por instituições financeiras e empresas com mais de US$ 20 trilhões em ativos, ajuda a avaliar os riscos da perda de biodiversidade. No entanto, ainda há muito a ser feito. O Instituto Paulson prevê uma lacuna de financiamento de cerca de US$ 598-824 bilhões por ano até 2030 para abordar a perda global de biodiversidade.

Funções e responsabilidades de um CNO

A nomeação de um CNO desempenha um papel crucial em priorizar a biodiversidade e o capital natural nos investimentos, preenchendo uma lacuna de financiamento. Como o primeiro CNO da Lombard Odier, Marc Palahí assume a responsabilidade de defender a natureza, mobilizando vários grupos, como governadores e investidores. Seu papel abrange a compreensão dos riscos ambientais em diferentes setores e cadeias de valor.

No cotidiano de um Diretor como Palahí, sua rotina engloba colaborar com a equipe de pesquisa de sustentabilidade da holistiQ, uma plataforma de colaboração entre a LOIM (Lombard Odier Investment Managers)  e a consultoria ambiental Systemiq. A equipe trabalha na elaboração de estratégias e diretrizes relacionadas às oportunidades naturais, buscando mobilizar capital em grande escala para a natureza e inspirar outros a fazerem o mesmo. Além disso, parte de suas atribuições consiste em identificar riscos que procuram atenção em estratégias futuras de investimento e estabelecer conexões com possíveis clientes ou empresas. Para Palahí, o papel do CNO é diversificado e envolve promover soluções motivadas na natureza, especialmente a bioeconomia.

No nível executivo, o CNO colabora com o Chief Sustainability Officer (CSO) para integrar estratégias naturais nas operações e investimentos da empresa. Essa cooperação, de acordo com Sebastian Troëng da Conservation International, pode elevar a importância da biodiversidade, equiparando-a à crise climática e impulsionando soluções abrangentes.

Preenchendo a lacuna de competências para a conservação da natureza

O papel recém-concebido do Chief Nature Officer (CNO) para enfrentar desafios ambientais em evolução e um ambiente político mutável é significativo. A nomeação de um CNO pela LOIM transmite uma mensagem encorajadora ao setor privado sobre a importância da natureza, segundo Troëng.

No entanto, Troëng ressalta que os CNOs devem ser líderes eficazes, apoiados por diretores executivos e conselhos de administração. Eles precisam ter autonomia para não apenas seguir esforços pró-natureza, mas também eliminar gradualmente práticas insustentáveis.

Segundo Palahí, identificar as competências certas para um CNO, dadas suas habilidades únicas, é desafiar. A habilidade de conectar informações complexas, ter empatia e compreender perspectivas diversas, especialmente do setor financeiro, é fundamental. Além disso, uma compreensão científica da natureza e confiança para engajar os investidores são necessárias. Palahí compartilha que as universidades poderiam desenvolver programas de graduação em finanças da natureza para suprir essa lacuna de competências.

Utilização de dados para desempenho da biodiversidade

Melhorar o desempenho em relação à natureza para investidores e corporativos requer aprimorar a gestão de dados e superar os obstáculos relacionados à contabilização do capital natural e à avaliação do desempenho da biodiversidade.

Segundo Rashmi Bomiriya, COO (Diretor de Operações) e cientista-chefe de dados da RS Metrics, barreiras históricas envolvendo dados e transmitidas à natureza podem dificultar esforços de conservação. Isso inclui a falta de dados detalhados em nível de atividade e desafios na definição de referências e monitoramento dos impactos da biodiversidade ao longo do tempo.

A plataforma ESG Signals da RS Metrics e o AssetTracker conduzem como catalisadores de dados para o TNFD (Força-tarefa sobre divulgações financeiras relacionadas à natureza), oferecendo informações ambientais específicas em nível de ativo, abordando questões como estresse hídrico, risco de incêndios florestais, variações térmicas e distribuição de espécies.

Bomiriya ressalta que os CNOs podem aproveitar esses dados para tomar decisões embasadas, estabelecer metas ambiciosas para a biodiversidade e comunicar de forma eficiente seus esforços relacionados à natureza a stakeholders, investidores e clientes.

O papel do investidor na valorização do capital natural

Os investidores e a comunidade financeira têm um papel importante em destacar os benefícios das estimativas do capital natural e reconhecer o valor da bioeconomia circular emergente. A colaboração entre o Diretor de Natureza e os stakeholders é vital para integrar as considerações de capital natural nas decisões de investimento.

Segundo Azevedo, bancos e investidores podem influenciar práticas, passando de ações que prejudicam a natureza para aqueles que a regeneram, como a agricultura regenerativa- conceito ligado à possibilidade de produzir recuperando os solos, com proposta que visa a regeneração e manutenção de todo o sistema de produção de alimentos agrícolas, incluindo as comunidades rurais e os consumidores. Olhar para além dos resultados trimestrais e adotar uma visão de longo prazo ajuda a preencher uma lacuna de financiamento da biodiversidade.

Além dos investidores, os governadores e formuladores de políticas têm uma grande responsabilidade na facilitação dessa transição. Por meio de reformas políticas, capacitação e investimentos iniciais, os governos podem incentivar o setor privado a adotar práticas mais atraentes. Práticas de contabilidade de capital natural também são essenciais. Isso é especialmente relevante, uma vez que, de acordo com a Dasgupta Review, os incentivos prejudiciais à natureza somam entre US$ 4 a 6 trilhões globalmente a cada ano.

 A perspectiva é que o papel do CNO se torne uma norma. Palahí prevê que, até 2025, bancos, gestores de ativos e corporações de renome contarão com um CNO. Com autonomia para promover práticas regenerativas e priorizar a natureza no nível estratégico, o CNO pode desempenhar um papel crucial na valorização do capital natural e na promoção da sustentabilidade.

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