Quando lançado há quase 50 anos, alguns economistas consideraram as conclusões de Os limites do Crescimento (The Limits to Growth, em inglês) como “irresponsavelmente absurdas”, enquanto outros criticaram a validade do modelo que os autores haviam usado para prever o consumo de energia, a poluição e o crescimento populacional. Uma revisitação do relatório mostra que enfrentamos hoje os mesmos dilemas e que as principais conclusões do estudo original ainda são válidas. Abaixo, artigo de Quirin Schiermeier, publicado na revista Nature.
Às vésperas de um dos choques econômicos mais notáveis do século XX – a crise do petróleo de 1973 – um influente grupo de pesquisadores lançou um relatório que se tornou icônico, intitulado The Limits to Growth, ou Limites do Crescimento.
O trabalho, que recebeu grande atenção e se mostrou controverso, pintou uma imagem sombria do futuro da humanidade. O crescimento econômico e populacional esgotaria os recursos do planeta e causaria o colapso econômico antes de 2070.
Mais de quatro décadas depois, as principais conclusões do relatório ainda são válidas, de acordo com um grupo de pesquisadores independentes que atualizaram o trabalho usando ferramentas analíticas mais sofisticadas. Assim como o relatório de 1972, o mais recente trabalho foi encomendado pelo Clube de Roma, um grupo de cientistas liberais, economistas e políticos que este ano celebra o quinquagésimo aniversário da sua fundação em 1968.
A atualização, lançada em 17 de outubro em Roma para o aniversário do clube, faz uma leitura séria. Cenários business as usual ou de crescimento econômico acelerado indicam que o mundo não conseguirá atingir as metas de desenvolvimento sustentável (ODS) das Nações Unidas – um conjunto de metas sociais, ambientais e de prosperidade para 2030 – concluem os autores.
Mesmo que os governos reforcem substancialmente as políticas “convencionais” para atender as metas sociais dos ODS – como a erradicação da pobreza e da fome e a obtenção de educação de qualidade para todos –, correm o risco de não alcançar metas ambientais.
“Há um alto risco de empurrar os sistemas de suporte de vida da Terra para além de pontos de não retorno até 2050”, conclui o relatório.
“É muito perturbador ver que ainda estamos enfrentando o mesmo dilema que o Clube de Roma descreveu há quase 50 anos”, diz Julia Steinberger, especialista em economia ecológica da Universidade de Leeds, no Reino Unido.
ODS ambientais no esquecimento?
O relatório original era uma análise quantitativa baseada em um modelo computacional que calculava prováveis resultados futuros da economia mundial. As críticas se concentraram principalmente nas suposições dos autores sobre a duração esperada dos recursos naturais.
Alguns economistas consideraram as conclusões pessimistas do livro como “absurdamente irresponsáveis”, enquanto outros criticaram a validade do modelo – World3, sofisticado na época – que os autores haviam usado para prever o consumo de energia, a poluição e o crescimento populacional.
A versão mais recente do relatório – por pesquisadores do Stockholm Resilience Centre na Suécia e da Norwegian Business School em Oslo – usou um modelo do sistema terrestre que combina variáveis socioeconômicas e biofísicas, juntamente com uma riqueza de dados históricos e socioeconômicos novos, para elaborar as suas conclusões. Esse modelo, cujos elementos interagem com a passagem do tempo, é muito mais robusto, diz Steinberger.
Os pesquisadores descobriram que, pelo atual andar da carruagem, o mundo está a caminho de alcançar apenas 10 dos 17 ODS até 2030.
Se usadas ferramentas convencionais para alcançar os ODS sociais, esses esforços serão feitos às custas de uma exploração insustentável de recursos naturais, como a água, solo e energia. Por isso, as metas ambientais, incluindo estabilizar o clima, reduzir a poluição e manter a biodiversidade, ameaçam cair no esquecimento, dizem eles.
Para evitar que a civilização humana sofra mais danos ambientais do que seria capaz de suportar, os autores conclamam os líderes mundiais a considerar mais políticas que considerem não convencionais.
Apenas mudanças econômicas e comportamentais mais extremas do que estão atualmente em vigor permitirão ao mundo alcançar todos os 17 ODS juntos, dizem os autores.
Essas políticas podem incluir a transformação imediata dos sistemas de energia, maior uso do planejamento familiar para estabilizar as populações e incentivar ativamente uma distribuição mais equilibrada da riqueza, de modo que os 10% mais ricos não recebam mais de 40% da renda.
O relatório é uma justificativa da visão inicial do Clube de Roma e uma alternativa bem-vinda ao foco da economia dominante no crescimento e no equilíbrio, diz Steinberger.
“A maioria das conclusões originais de os Limites do Crescimento ainda são verdadeiras”, disse Johan Rockström, um pesquisador de sustentabilidade e coautor do relatório, em Estocolmo. “Isso é cientificamente satisfatório, mas para as sociedades não é.”
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