A conversa sobre RSPO e Bonsucro nos biocombustíveis de palma ganhou força à medida que compradores e investidores buscam padronizar critérios socioambientais entre cadeias de suprimento distintas (palma e cana). Este artigo explica como a RSPO enquadra a produção de óleo de palma usado como insumo para biodiesel/HEFA, e como isso se relaciona com o Bonsucro, referência para açúcar/etanol, especialmente em temas como princípios e critérios, cadeia de custódia (mass balance) e iniciativas de colaboração intersetorial.
O que a RSPO certifica — e por que importa para biocombustíveis
A RSPO (Roundtable on Sustainable Palm Oil) define Princípios e Critérios (P&C 2018) que cobrem ética, legalidade, direitos humanos e trabalhistas, inclusão de pequenos produtores e proteção de ecossistemas — incluindo a adoção da Abordagem de Alto Estoque de Carbono (HCS) para frear o desmatamento (Critério 7.12). Para qualquer refinador, trader ou produtor que use óleo de palma como feedstock energético, estes requisitos reduzem riscos ESG materiais (desmatamento, conflitos fundiários, trabalho precário) e ampliam a elegibilidade em mercados e financiamentos sustentáveis.
Além do desempenho em campo, a RSPO possui quatro modelos de cadeia de suprimento (Identity Preserved, Segregated, Mass Balance e RSPO Credits/Book & Claim), que habilitam diferentes níveis de rastreabilidade e de “fidelidade física” entre o óleo certificado e o produto final. Para biocombustíveis, os modelos Segregated e Mass Balance são os mais usados em fluxos físicos; os RSPO Credits funcionam como mecanismo de mercado (book & claim) para apoio à transição, mas não equivalem a rastreabilidade física.
Ponto regulatório-chave (UE): a RSPO chegou a manter um “RSPO-RED” como add-on para atender à antiga RED (2009/28/EC), mas o esquema não foi renovado em 2020 após a entrada em vigor da RED II (2018/2001). Para cumprir critérios legais da RED II hoje, operadores de palma que visam o mercado europeu normalmente utilizam esquemas voluntários reconhecidos especificamente para RED II (ex.: ISCC), podendo combinar RSPO (robustez ESG setorial) com uma certificação RED-compliant para fins regulatórios. Em termos práticos: RSPO continua extremamente relevante para a governança e reputação do feedstock, mas não substitui um esquema RED II para comprovação regulatória.
Onde o Bonsucro entra — paralelos úteis para quem lida com palma e cana
O Bonsucro é o padrão global para cana-de-açúcar e derivados (açúcar, etanol, bioelectricidade). Sua Production Standard v5.2 (2023) atualiza indicadores sociais, ambientais e de gestão (direitos humanos, saúde e segurança, água, GEE), com auditoria e verificação independentes. Em espelho aos modelos de RSPO, o Bonsucro tem Chain of Custody (ChoC) baseado em mass balance e mecanismos de créditos, permitindo rastrear alegações de compra responsável até a origem. Para empresas multi-commodities, esses paralelos facilitam a harmonização de políticas de compras e os controles internos entre palma (RSPO) e cana (Bonsucro).
Ambos os sistemas são membros do ecossistema ISEAL, o que indica aderência a códigos de boas práticas em definição de padrões, garantia e mensuração de impactos — um atalho confiável para times de compliance e sustentabilidade ao estabelecer critérios corporativos.
RSPO e Bonsucro nos biocombustíveis de palma: convergências na prática
1) Cadeia de custódia e mass balance. Tanto RSPO quanto Bonsucro permitem Mass Balance: você compensa entradas e saídas de volumes certificados dentro de um período de inventário, mantendo controles administrativos robustos. Para compras que misturam origens, mass balance viabiliza escala sem perder o controle sobre o “sinal de sustentabilidade”. Quando o objetivo é uma alegação forte ao consumidor (ex.: “100% sustentável, fisicamente segregado”), os modelos Segregated/Identity Preserved da RSPO são equivalentes conceituais à rastreabilidade física desejável na cana em contextos premium.
2) Pequenos produtores. A RSPO incentiva a inclusão de smallholders e oferece arranjos (incluindo créditos) para viabilizar a participação até que eles alcancem certificação plena. O Bonsucro também possui abordagens específicas para pequenos produtores, o que possibilita estratégias corporativas alinhadas para palm & cane em programas de fomento agrícola.
3) Deforestação e uso do solo. RSPO incorpora HCV/HCS e NDPE de fato via P&C 2018, enquanto o Bonsucro estabelece salvaguardas ambientais e sociais alinhadas à produção responsável de cana, incluindo gestão de GEE e de recursos hídricos. Essas estruturas tornam RSPO e Bonsucro nos biocombustíveis de palma um par de referência para políticas corporativas “sem desmatamento e sem exploração”.
4) Colaboração e aprendizado intersetorial. Há iniciativas conjuntas para medir impactos de padrões voluntários e aprimorar resultados em nível de paisagem. Em 2020–2021, a RSPO participou de um projeto co-liderado pelo Bonsucro e Universidade de Minnesota para desenvolver abordagens baseadas em resultados (“outcome-based standards”) — sinal de convergência metodológica útil para empresas que operam em múltiplas commodities.
Como estruturar uma estratégia corporativa
Mapeie requisitos regulatórios vs. reputacionais. Se a meta é vender combustível renovável no mercado europeu, RSPO não supre por si só a conformidade da RED II; use RSPO como camada ESG setorial (desmatamento, trabalho, comunidades) e acople um esquema RED II-compliant para a parte regulatória da cadeia de biocombustíveis. Já para mercados e financiadores que priorizam due diligence socioambiental, a combinação RSPO + Bonsucro oferece coerência de políticas entre palma e cana.
Escolha o modelo de cadeia de custódia conforme o risco. Em cadeias complexas, Mass Balance tende a dar escala e custo-efetividade; para claims mais fortes ou setores sensíveis, Segregated/Identity Preserved em RSPO e rastreabilidades mais rígidas em cana podem ser priorizadas. Padronize procedimentos de entradas/saídas, períodos de inventário e reconciliação — o vocabulário é muito similar entre RSPO e Bonsucro, o que simplifica auditorias internas.
Implemente critérios de paisagem e engajamento local. Aproveite o fato de que os dois padrões vêm investindo em mensuração de impactos e abordagens de paisagem. Projetos coletivos reduzem custos de monitoramento, criam alinhamento com políticas públicas e facilitam o atendimento a compromissos corporativos (ex.: “nature positive”).
Integre governança e relatórios. Como RSPO e Bonsucro nos biocombustíveis de palma partilham princípios de transparência, direitos trabalhistas e melhoria contínua, é possível harmonizar KPIs (ex.: área sob manejo responsável, % de volume sob mass balance, indicadores de saúde e segurança, queixas/agravos resolvidos). Isso reduz retrabalho em auditorias, melhora a consistência de relatórios ESG e fortalece a defesa junto a clientes e investidores.
Perguntas frequentes rápidas
RSPO é suficiente para vender biodiesel/HEFA na UE? Não. Após 2020, o RSPO-RED não foi renovado para a RED II. Use RSPO como arcabouço ESG e combine com um esquema reconhecido pela RED II para comprovar sustentabilidade regulatória do biocombustível.
Mass balance “vale” para alegações públicas? Sim, para alegações de cadeia de custódia (ex.: “compramos volume certificado equivalente”), desde que você siga os manuais de cada padrão e comunique corretamente os limites do modelo. Para alegações físicas (ex.: “este produto contém apenas óleo certificado”), prefira Segregated/Identity Preserved.
Existe diálogo formal entre RSPO e Bonsucro? Sim, há colaborações em projetos sobre impactos e abordagens de paisagem, além da convergência por ambos integrarem a comunidade ISEAL. Isso facilita o aprendizado cruzado e a compatibilidade operacional entre os dois sistemas.
Resumo estratégico: “RSPO e Bonsucro nos biocombustíveis de palma” é mais do que um par de logos — é um kit de ferramentas complementar. A RSPO aporta salvaguardas robustas contra desmatamento e abusos sociais na palma; o Bonsucro oferece um espelho maduro para cana, com métricas e cadeia de custódia comparáveis. Para quem compra, processa e comercializa combustíveis de base agrícola, a dupla viabiliza políticas coerentes entre commodities, melhora a gestão de riscos e agiliza compliance em diferentes mercados — desde que você separe claramente o que é requisito regulatório (ex.: RED II) do que é padronização ESG e reputação corporativa.
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